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Mais Mulheres Por Favor

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22
Fev19

[LIVROS] | A Minha Prima Rachel

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Daphne Du Maurier era uma das lacunas na minha estante por colmatar há mais tempo. Desde o início que estava inclinada para adquirir Rebecca, contudo, acabou por ser A Minha Prima Rachel o escolhido. Foi a primeira leitura do mês de Fevereiro e uma agradável surpresa.
 
Já tinha saudades de ler um romance deste género, com todos os aspectos culturais e sociais típicos de Inglaterra (de outros tempos) e uma forte carga dramática familiar. A escrita de Daphne Du Maurier é muito envolvente e o clima de suspense e mistério em torno de Rachel tornam a leitura muito entusiasmante, na ânsia de tentarmos perceber o que motiva realmente esta mulher. Outro aspecto que me cativou foi a caracterização dos personagens, apesar de não ter adorado nenhum deles, são muito ricos e dão força e dimensão ao enredo.
 
Uma das minhas partes preferidas tem lugar logo no início do livro, quando Philip recorda o seu primo Ambrose e o papel que este teve na sua educação e crescimento. Quando envelhece, Ambrose, devido a problemas de saúde, passa grandes temporadas do ano em locais com um clima menos agressivo que o da Cornualha, e, numa estadia em Itália, acaba por casar-se com Rachel. Relativamente pouco tempo depois, sem nunca ter regressado à Cornualha, Ambrose morre e tudo o que Philip recebe durante este período de tempo são raras cartas que demonstram o declínio de Ambrose e o crescimento da sua desconfiança por Rachel. As circunstâncias desta morte são pouco claras e Philip sente que tem de vingar a morte de Ambrose, desenvolvendo um ódio visceral pela prima Rachel. A trama adensa-se quando Rachel aparece, umas semanas mais tarde, na propriedade que Philip herdou de Ambrose.
 
Apesar da qualidade narrativa e do mistério que nos acompanha até ao final, considero que, a dado momento, Philip se tornou muito repetitivo (a parvoíce tem limites, mesmo quando se tem apenas 24/25 anos), algo que me aborreceu a dado momento, mas que acabou por ser ultrapassado devido a um desenvolvimento no enredo. Creio que é uma daquelas histórias que dificilmente se esquecerá, mas este não se tornou um dos livros preferidos da vida, ao contrário das minhas (elevadas) expectativas. Apesar disso, não posso deixar de recomendar esta leitura e quero, sem dúvida, ler mais obras de Daphne du Maurier.
 
Livro escolhido para o projecto Uma Dúzia de Livros, da Rita da Nova.
 
30
Jan19

[LIVROS] | Eliete

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Dulce Maria Cardoso é uma das escritoras portuguesas mais aclamadas actualmente, da qual já havia lido O Retorno (2013), tudo são histórias de amor (2014) e O Chão dos Pardais (2009), por esta ordem. Recomendo sempre de olhos fechados O Retorno, um dos meus livros preferidos da vida; tudo são histórias de amor partiu-me o coração em pedaços; O Chão dos Pardais não mexeu tanto comigo, mas o amor por Dulce Maria Cardoso já estava mais do que consolidado na época em que o li. Na Feira de Natal da Tinta-da-China, tive a sorte de encontrá-la e pedir-lhe uma dedicatória no seu mais recente livro, Eliete.
 
Não li a sinopse nem as críticas deste livro antes de o ler, apenas sabia que tinha sido incluído em várias listas de melhores livros do ano, em diversos jornais/revistas. Tinha saudades de ler esta autora e acabei por não adiar muito esta leitura, algo em Eliete me atraía magneticamente. Não estava à espera que o registo deste livro fosse tão moderno, Eliete tem pouco mais de quarenta anos, é casada, tem duas filhas e trabalha numa imobiliária. A acção deste livro tem como pano de fundo Cascais e passa-se ao longo do ano de 2016, havendo mesmo uma parte dedicada à final do Euro em que, graças ao Éderzito, fomos campeões europeus de futebol. Gostei da actualidade deste livro e do tom cómico-trágico de Eliete, outro facto que confere maior dimensão a este livro é o declínio mental da sua avó e tudo a que isso dará origem.
 
Apesar dos pontos que referi acima, houve duas coisas que não me fizeram dar cinco estrelas a este livro. Em primeiro lugar, o momento de viragem na atitude e postura de Eliete, sensivelmente a meio da narrativa, que julgo arrastar-se demasiado e que faz esmorecer um pouco o entusiasmo da parte inicial. O segundo aspecto prende-se com o "desaparecimento" da mãe de Eliete nos dois terços finais do livro, fiquei um pouco desiludida que, após um início tão tenso entre ambas, não houvesse uma continuação da relação entre ambas nos meses que se seguiram.
 
Feito o balanço, há que acrescentar que adorei voltar a ler Dulce Maria Cardoso e que estou realmente ansiosa pela segunda parte de Eliete que, segundo consta, será publicada ainda este ano.
 
Não queria a balbúrdia da festa lá fora, não queria o sossego da solidão cá dentro, mas como é que podia dizer, sem me sentir ridícula, ao Marco, ao mundo, ao Jorge, a mim, que queria ser amada, como é que podia dizer, dizer-nos, bem alto, Sim, sim, quero ser amada, sim, quero uma tempestade, mas uma tempestade a proteger-me do mundo, quero ser o olho do furacão, a calma em torno da qual tudo se agita, quero ser causa e consequência do que se passa à minha volta, quero não estar parada, caminhar com a previsibilidade incerta dos temporais, quero a brutalidade do que é efémero em vez da eterna compostura sólida de planetas que gravitam, quero não estar a banhos no vaivém monótono de dias e marés. Sim, era isso. Queria, acima de tudo, não ter de pensar aqueles disparates. Queria ficar sóbria e não ser triste.
 
Livro escolhido para o projecto Uma Dúzia de Livros, da Rita da Nova.
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