[LIVROS] | Uma Volta ao Mundo com Leitores
Viagens e livros são tudo o que uma pessoa pode pedir para ser feliz. Um livro que conjugue estes dois mundos tem, à partida, um potencial gigante, à semelhança das expectativas que criamos em torno dele. Uma Volta ao Mundo com Leitores, de Sandra Barão Nobre, criadora do Acordo Fotográfico, surge a propósito de uma viagem de cerca de 6 meses à volta do mundo, em que a autora percorreu catorze países, começando no Brasil, passando pela Austrália, Tailândia, Índia, África do Sul, terminando em Cabo Verde, locais onde fotografou e conversou com diversos leitores que se cruzaram com o seu caminho. A escolha da maior parte dos destinos prendeu-se com as suas fortes ligações a Portugal e à língua portuguesa, mas deixo o prelúdio desta viagem em aberto para que o descubram através da sua leitura, já que me surpreendeu e emocionou bastante.
Este livro é composto pelas fotografias que Sandra vai tirando aos leitores (enquanto lêem) com quem se cruza, as quais são acompanhadas por textos que descrevem o local onde a foto foi tirada, o ambiente, a troca de palavras entre fotógrafa e fotografado e, claro, ao livro em questão. A ligação entre países, viagens e leitores fotografados é feita num tom mais intimista e pessoal, que foi muito mais do meu agrado do que os textos que acompanhavam as fotos. Talvez porque sou de facto mais interessada pela experiência da viagem em si do que pelo encontro casual com pessoas que, na maioria das vezes, não estavam a ler livros que me interessassem muito.
Para além dos livros e das histórias por detrás da sua leitura não me terem impressionado particularmente, nota-se uma grande evolução entre os primeiros textos, mais curtos e objectivos, sem tanto sentimento, e os textos a partir de Timor-Leste, muito mais pormenorizados, intensos e com mais conteúdo. Ainda assim, foram os textos em itálico que me deliciaram, que me fizeram sonhar com uma viagem deste calibre, com tudo o que esta tem de bom e de mau (curiosamente, a citação que vou partilhar neste texto acompanha uma fotografia, mas é já do final do livro, onde textos mais pessoais e textos de fotografias já quase não se distiguem). Parabéns à Sandra pela coragem de se aventurar numa viagem à volta do mundo, pelo amor pelos livros, pela leitura, e pelos leitores, pela partilha.
Havia cinco meses que não estava em Portugal e apercebia-me agora, de forma pugente, que não me apetecia regressar a casa. Cedi estupidamente a um sentimento de nostalgia pela viagem que ainda não tinha acabado e admito que a minha experiência em São Tomé tenha sido afetada por esse estado de espírito. Costumo dizer que foram muitas as ocasiões durante a viagem em que chorei de alegria, mas foi São Tomé que me arrancou as únicas lágrimas de tristeza. Dos catorze países onde estive no decorrer da viagem, este foi o que mais altos e baixos me provocou. Deslumbramento e nojo. Paz e revolta. Paixão e desprezo. Querer ficar mais tempo e não ver a hora de partir para bem longe. Foi quase um trauma. Não consigo parar de pensar em São Tomé, de falar sobre São Tomé, de me perguntar por que raio toda a gente, os são-tomenses incluídos, parece ter desistido de São Tomé. E embora tenha sido muito duro, tenho saudades de quase tudo o que lá vi e vivi.
PS: não percebo o que se anda a passar para as imagens que carrego nos posts ficarem com tão má resolução, já que no telemóvel e no portátil estão perfeitíssimas.