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07
Nov17

[LIVROS] | A História de Uma Serva

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A História de Uma Serva (The Handmaid's Tale) foi mundialmente destacado há uns meses atrás graças à adaptação que a Hulu (serviço de streaming) fez deste livro para série televisiva, série que ganhou oito Emmys, entre eles os de Melhor Série Dramática e Melhor Atriz de Série Dramática, atribuído a Elisabeth Moss. Curiosamente, foi através do Our Shared Shelf que assisti ao boom deste livro pelo Instagram e só depois tive conhecimento da série. Como já fazia parte da minha lista de futuras leituras há algum tempo, pareceu-me adequado lê-lo e depois ver a série.

 

Não poderia ter feito escolha mais acertada! Sem me querer alargar muito em relação à série, já que irei escrever um post sobre a mesma em breve, é importante referir que esta é tão espectacular e intensa, que a visualização da série antes da leitura do livro irá certamente prejudicar a experiência da leitura. É um dos casos raros em que preferi a série ao livro, provavelmente porque não o achei excelente em termos literários, mas sim pela história que conta.

 

Trata-se de uma distopia que nos faz reflectir bastante, já que, se pensarmos bem, não é um cenário assim tão improvável. Os elevados níveis de poluição resultam num decréscimo abrupto da fertilidade da população humana, ao qual se segue uma revolta levada a cabo por extremistas cristãos nos Estados Unidos da América, dando origem à instituição da república de Gileade, onde as mulheres férteis são apelidadas de Servas. Estas usam um traje característico, vivem na casa dos Comandantes (homens com cargos importantes) e o seu objectivo é engravidar e levar até ao final a sua gravidez, entregando o filho ou filha ao respectivo Comandante e Esposa, em caso de fracasso são enviadas para as Colónias, zonas de trabalhos forçados e com elevado grau de poluição. Uma vez que o homem nunca é considerado infértil, todos os meses ocorre um ritual de procriação, designado de Cerimónia, onde estão presentes os três, Serva, Comandante e Esposa.

Por causa das nossas abas, dos nossos antolhos, é difícil olhar para cima, é difícil conseguir uma visão completa, do céu, seja do que for. Mas podemos fazê-lo, um pouco de cada vez, um movimento rápido da cabeça, para cima e para baixo, para o lado e para trás. Aprendemos a olhar para o mundo em arquejos.

O resto vão descobrir ao ler este livro, à medida que Defred, uma Serva, vos elucida sobre o que se passa na Gileade, recordando também alguns momentos do seu passado. Não deixem de ler A História de Uma Serva já que este proporciona uma incrível reflexão sobre os caminhos que uma crise na continuidade da espécie humana pode tomar, levando à perda dos direitos das mulheres, que passam a ser vistas como meros objectos, cujo propósito é trazer novos seres humanos ao mundo, perdendo para isso a sua identidade, dignidade, família, posses, tudo.

Pensar pode diminuir as hipóteses de uma pessoa, e a minha intenção é durar. Sei porque é que não há vidro na aguarela de lírios azuis e por que razão a janela só abre até certo ponto e porque é inquebrável o seu vidro. Não é a fuga que eles temem. Não iríamos muito longe. São aquelas outras fugas, essas que podemos abrir em nós mesmas, com uma ponta afiada.

A minha nudez já me é estranha. O meu corpo parece antiquado. Usei mesmo fatos de banho, na praia? Usei, sem pensar, no meio de homens, pouco me importando de exibir as minhas pernas, os braços, as coxas e as costas, de que pudessem ser vistos. "Vergonhoso, imodesto". Evito baixar o olhar para o meu corpo, não tanto por ser vergonhoso ou imodesto, mas porque não o quero ver. Não quero olhar para algo que me determina de maneira tão absoluta. 

 

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