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Fica Comigo, de Ayòbámi Adébáyò, foi uma das novidades da rentrée literária de 2018 que mais me chamou a atenção na época. Tenho por hábito acompanhar de perto as novidades da Elsinore, porque muitos dos seus livros se tornaram preferidos da vida (assim de repente, recordo-me de Yoro e A Guerra não Tem Rosto de Mulher), e com Fica Comigo não foi diferente, a capa e a sinopse deram-me o impulso final para o adquirir.
Este livro passa-se na Nigéria, desde os anos 1980 até, praticamente, à actualidade, e aborda a temática da infertilidade, que, embora seja transversal à humanidade, toma contornos muito particulares nesta cultura, bastante distintos daqueles que conhecemos no "mundo" ocidental. Há também um contexto histórico muito forte que vamos acompanhando à medida que os anos passam nesta narrativa. Tinha muita curiosidade em relação à forma como Ayòbàmi Adébáyò iria explorar esta temática, bem como relativamente aos contornos da história propriamente dita, e fiquei muito surpreendida com a qualidade da escrita da autora, bem como do enredo em geral.
O início de Fica Comigo é muito intenso, fiquei imediatamente cativada e sofri juntamente com a protagonista, Yejide. Todos fazemos ideia, de alguma forma, da dor que um casal experiencia num contexto de infertilidade, um loop de esperança seguida de desilusão, a tristeza, o desespero e a irracionalidade, tudo misturado num cocktail que, facilmente, pode ser explosivo. Na cultura nigeriana, toda esta tempestade de emoções é ainda mais notória, já que, a título de exemplo, é habitual um homem ter várias mulheres e, naturalmente, filhos dessas mesmas mulheres, além disso, é muito importante que um homem tenha vários filhos, se forem homens, melhor ainda. Devido à ausência de uma gravidez, Yejide vê-se a braços com o aparecimento de uma segunda mulher para Akin, o seu marido.
Creio que, a certo momento da leitura de Fica Comigo, vamos pensar que esta história tem reviravoltas a mais, mas, tendo em conta a cultura onde se insere e os sentimentos que unem os personagens, confesso que isso não me afectou muito, senti-me transportada para aquela realidade e tudo me pareceu bastante plausível, contudo, esta componente mais de "novela" faz, na maioria das vezes, cair a tão importante quinta estrela, tal como aconteceu comigo. Ainda assim, adorei esta leitura e o desfecho da história, pretendo ler mais obras de Ayòbàmi Adébáyò.
Muros coloridos iam-me cercando por todos os lados. Tentava empurrá-los, mas os muros eram de cimento e aço. Eu era apenas carne e míseros ossos.