[LIVROS] | Vem à Quinta-Feira
O livro escolhido para o #lerpoesia de Julho foi uma das compras da Feira do Livro, Vem à Quinta-Feira, de Filipa Leal, uma autora que ainda não tinha lido, mas que fiquei a conhecer através de alguns poemas publicados em diversas redes sociais, promovendo o livro. Como é hábito nas edições da Assírio & Alvim, esta é uma edição primorosa e muito bonita, e o único defeito que lhe podemos apontar é ser demasiado curta.
Como já adivinhava pelos poemas que fui lendo, identifiquei-me muito com a poesia da Filipa Leal e não conseguir prolongar a sua leitura por vários dias, li-o de seguida, lamentando não ter mais nada da autora para ler. Já investiguei algumas edições (Deriva Editores e Abysmo), nomeadamente O Problema de Ser Norte (2008), mas que se encontram esgotadas. A única que encontrei disponível foi Cidade Líquida & Outras Texturas (2006), mas a que faz mesmo bater o meu coração mais depressa é a que referi antes. Fica a nota para que a Assírio & Alvim reedite as suas obras - aqui têm uma fiel compradora.
A temática, os jogos de palavras e a naturalidade da poesia de Filipa Leal, bem como o poema dedicado a Herberto Helder - Os Meus Primeiros Passos em Volta, neste Vem à Quinta-Feira (a propósito do poema Caranguejola, de Mário de Sá Carneiro), conquistaram-me definitivamente, pelo que me resta apenas deleitar-me com os poemas que surgem por aí e pelos livros que hão-de vir.
Para Aprender a Chorar
Juntaram no jantar de escritores
um crítico literário,
um poeta zen,
uma poetisa dada à música contemporânea,
uma produtora de espectáculos de fusão,
e eu.
Eu era, naturalmente, a mais alta representante da poesia
lamechas. Eu era a da voz grossa, a que lia poemas
deles pelas esquinas da cidade. Eu era a que fazia pausas
para o cigarro, a que não tinha companhia
para tanto mar, tanto frio, tantas interrupções de medo e nicotina.
Talvez alguém tenha falado de tristeza.
É um tema que me interessa.
Eu não sei chorar, disse. Nunca aprendi a chorar.
Aflijo-me. Fico com falta de ar.
Quero chorar muito mas acabo por chorar pouco
porque tenho medo de me engasgar e morrer.
Oh, riso geral.
Esta poeta lamechas é tão engraçada, tão dada
à auto-ironia, tão menos lamechas do que nós
pensávamos.
Nessa noite, chorei muito.