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27
Dez18

[LIVROS] | As Melhores Leituras de 2018

Este ano literário foi muito estável em qualidade - yeah! -, mas bastante descontrolado em aquisições - nada de novo neste aspecto, portanto. 
 
Em relação às leituras, de um total de 50 livros lidos, houve muitas surpresas - quase sempre boas -, vários favoritos da vida e poucas desilusões. Li muitas autoras pela primeira vez e consolidei paixões. Dos meus preferidos, quase todos são de autoras contemporâneas, algo que me deixa feliz, mas ligeiramente preocupada. Creio que é realmente importante que os livros contemporâneos não nos passem ao lado porque alguns deles serão, certamente, considerados clássicos daqui a dezenas de anos e, logicamente, aí já não estaremos vivos para os lermos, e porque estas autoras merecem sentir o reconhecimento que lhes é devido (elogios fúnebres devem ser a excepção, não a regra), no entanto, não quero, de todo, descorar os clássicos. Assim, a principal meta para 2019 é tentar equilibrar um pouco melhor as leituras clássicas e contemporâneas, mas sem contrariar a minha vontade - não pretendo ler livros por obrigação. 
 
Quanto às compras, na Feira do Livro de Lisboa aproveitei para comprar livros publicados há mais tempo, e, ao longo do ano, fui-me desgraçando nas promoções nos livros com menos de 18 meses. Nesta altura do ano, impõe-se o discurso habitual de quem compra muitos livros: (colocar a mão no peito e jurar solenemente) No próximo ano vou comprar menos livros e ponderar mais antes de cada compra. Aliás, em 2019, apenas comprarei livros na FLL!
 
A caminho dos 29 anos e depois de muitos livros comprados, consigo agora dizer, em modo Livrólicos Anónimos: Olá, o meu nome é Alexandra e, a menos que tenha sérias dificuldades financeiras no próximo ano, pretendo continuar a sustentar, dentro das minhas humildes capacidades, o mercado editorial português e a secção de estantes do IKEA. Sim, este ano estou a tentar fazer uso do discurso invertido, já que nada mais parece resultar e porque, sinceramente, já me preocupei mais com este tema. 
 
Feito o discurso, deixo abaixo a gloriosa lista das melhores leituras de 2018. Não foi tarefa fácil porque os favoritos estão realmente muito equilibrados e foi difícil estabelecer uma ordem (ainda tenho dúvidas, confesso), por vezes, tive mesmo de colocar dois livros na mesma posição tal era a indecisão, por isso não se fixem muito na posição dos livros na lista, mas nos livros em si.
Deixo também duas perguntas: Quais foram os melhores livros que leram este ano? Qual será a vossa primeira leitura de 2019?
 

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1. Raposa, Dubravka Ugresic - uma das últimas leituras do ano, mas que foi uma espécie de cereja no topo do bolo. Muito completo e diversificado para que possa ser descrito em palavras.


2. A Porta, Magda Szabó - Emerence foi a personagem mais marcante do ano e isso basta.


3. Estou Viva, Estou Viva, Estou Viva, Maggie O'Farrell - ainda me sinto a sufocar quando penso neste livro. Um conjunto de experiências em que a vida da autora esteve, de alguma forma, em risco. Perfeito na sua catástrofe, maravilhosa celebração da vida.


4. Viva México, Alexandra Lucas Coelho - ainda não conhecia o registo de viagens de Alexandra Lucas Coelho e comecei da melhor forma. Impossível não nos encantarmos, preocuparmos e emocionarmos com esta viagem ao México.

 

5. Meio Sol Amarelo, Chimamanda Ngozi Adichie - um livro imperdível sobre a história de luta do Biafra. Apesar da violência extrema, há sempre um registo sereno e onde habita o amor, tão característico de Chimamanda.

 

5. (ex aequo) Mrs Dalloway, Virginia Woolf - releitura que queria fazer há muito. Domínio magistral da técnica do fluxo de consciência, com temas ainda tão pertinentes actualmente, como a doença mental, o suicídio, a existencialidade e o feminismo.

 

6. O Nervo Ótico, María Gainza - Como resistir a um livro que combina história da arte com crónica íntima, realidade com ficção? Uma viagem pela história da arte e por nós próprios.


6. (ex aequoO Livro de Emma Reyes, Memória por Correspondência - a infância da pintora colombiana Emma Reyes é narrada ao longo de vinte e três cartas escritas pela própria, dirigidas ao seu amigo Germán Arciniegas. Uma história de vida imperdível.

 

7. Uma Educação, Tara Westover - é impossível ficar indiferente a uma família tão fora do comum. Outra história de vida incrível, escrita na primeira pessoa, que todos precisamos de conhecer.


8. Ema, Maria Teresa Horta - reúne tudo o que mais amo em Maria Teresa Horta - é visceral, louco, apaixonado -, foi tão bom voltar.

 

9. Mulheres Viajantes, Sónia Serrano - as pioneiras, as que foram até ao Oriente, as que exploraram África, as que percorreram o mundo, as que viajaram para se descobrirem e as contemporâneas. Mulheres cuja história e feitos devem ser do conhecimento geral.

 

10. Bandolim, Adília Lopes - ler Adília Lopes é como regressar a casa. Um conforto e uma alegria sem comparação.


11. A Praia de Manhattan, Jennifer Egan - maravilhosa história com uma perspetiva muito particular da Segunda Guerra Mundial e da Nova Iorque dessa época.

 

12. Frida Kahlo: Uma Biografia, María Hesse - a edição mais bonita da minha estante. Uma história contada de forma muito bela e delicada, com ilustrações de fazer perder a cabeça e algumas entradas do diário da icónica e enigmática pintora mexicana.

 

12. (ex aequo) Portuguesas com M Grande, Lúcia Vicente e Cátia Vidinhas - porque precisamos de conhecer melhor os nomes e a história das mulheres portuguesas que nunca se vergaram e que foram pioneiras em muitos aspectos. Passado e presente de mãos dadas de forma verdadeiramente inspiradora.

 

31
Jan18

[LIVROS] | O Livro de Emma Reyes

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O Livro de Emma Reyes foi mais um dos casos em que me senti hipnoticamente atraída por um livro. A capa magnífica faz adivinhar um conteúdo soberbo e não desilude, bem nos diz a Quetzal, autores que não perdoam.

 

Emma Reyes foi uma pintora colombiana cuja infância nos é narrada ao longo de vinte e três cartas dirigidas ao amigo Germán Arciniegas, quando esta já se encontra a viver em França. Aos cinquenta anos (1969), Emma relata a Gérman a infância miserável que viveu, primeiro num quarto, onde era trancada à chave durante longas horas, juntamente com a irmã Helena, e depois num convento, onde viveu durante quinze anos.

 

Apesar da distância temporal que separa a escrita destas cartas do tempo que relata, Emma Reyes descreve pormenorizadamente o que lhe aconteceu, ou pelo menos, aquilo que pretende que saibamos que lhe aconteceu. Há sempre uma aura de mistério em relação às pessoas que se cruzaram com ela durante a infância e juventude, mas especialmente sobre quem eram os seus pais. Há várias teorias, mas não há certezas.

A Dona María saía quase todos os dias e ganhou o costume de fazer-se acompanhar quase sempre pela Helena, e a mim deixava-me ao cuidado do miúdo com andar de pato que se sentava ao pé de mim a brincar com o pião. Um dia pôs-mo a dançar em cima da mão e tive tanto medo que desatei a chorar. Noutro dia perguntou-me se eu tinha pai e mãe e eu perguntei-lhe o que era isso e ele disse-me que também não sabia.

O conteúdo destas cartas é tremendamente duro, Emma não poupa as descrições e é quase possível sentirmos o cheiro nauseabundo do balde (que servia de penico) que a pequena Emma carregou durante dias a fio, todas as manhãs, até à esterqueira. É paupável a dor e a inocência que caracterizaram a sua infância, várias são as vezes em que sentimos uma necessidade urgente de pegar naquela criança e dar-lhe colo, conforto, amor. Apesar da dureza do relato, Emma Reyes conta-nos também diversos episódios divertidos e cheios de humor, próprios da inocência das crianças, que sabem apenas o que lhes contam e que acreditam em tudo piamente.

Eu continuava agarrada às plantas e com a cara colada à terra; creio que nesse momento aprendi, de maneira instantânea, o que é a injustiça e que uma criança de quatro anos pode sentir perfeitamente o desejo de já não querer viver e de ser devorada pelas entranhas da terra. Esse dia foi, sem dúvida, o mais cruel da minha existência.

Uma história incrível que apenas foi publicada em 2012 e que de imediato se tornou num clássico. Para além das vinte e três cartas, este livro conta também com dois textos finais sobre Emma Reyes, escritos pelo seu amigo Gérman Arciniegas e por Diego Garzón, o último com muitos apontamentos sobre o que aconteceu a Emma depois do período descrito nas cartas, e com um fac-símile da primeira carta. Recomendo de olhos fechados. Maravilha.

 

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