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20
Dez17

[LIVROS] | Karen

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Karen, de Ana Teresa Pereira, foi o vencedor (unanime) do prémio Oceanos 2017, tendo integrado também a shortlist do Prémio PEN Clube de Narrativa e do Prémio Fernando Namora, razões mais do que suficientes para não poder deixar de o ler ainda este ano.

 

Quando li dois livros de Ana Teresa Pereira (Se Nos Encontrarmos de Novo e Inverness), praticamente de seguida, há cerca de quatro anos, fiquei encantada com o poder da sua escrita, simples e envolvente. A escritora, nascida na Madeira, tem o poder de nos fazer vaguear pelas páginas dos seus livros em busca de respostas sobre o destino das personagens, mas também de nós próprios, primeiro, de forma muito subtil, mal nos apercebemos, depois, intensamente.

 

Este romance absorve-nos de forma quase claustrofóbica, faz-nos procurar urgentemente a saída, mas raramente obtemos respostas. A personagem principal acorda num lugar que não conhece, junto de pessoas que não lhe são minimamente familiares. Tendo a certeza de que não pertence àquele lugar e que as suas memórias não coincidem com o que lhe é dito, vive uma dualidade conflituosa, em busca de identificação, é quem pensa ser e quem lhe dizem ser. Um conflito interior que o leitor sente como se fosse seu e que torna esta leitura veloz.

Não fazia sentido, mas receava que eles me apanhassem nalguma contradição, nalguma frase, até nalgum gesto, que demonstrasse que eu não era Karen. Talvez porque isso poderia dar-lhes uma indicação de quem eu realmente era, e sentia necessidade de protegê-la, a rapariga de Londres com os seus jeans velhos e cabelo descuidado, e mãos um pouco ásperas, com restos de tinta nas unhas. A rapariga com o seu colar de prata comprado em Portobello, que passava tardes a ouvir música ou ler poemas e depois se aproximava da tela e se entregava a um ritual mágico, como se deitasse cinzas sobre a cabeça ou esfregasse cinábrio no rosto.

Tal como aconteceu com os outros romances, no início, tive a percepção de estar a ler uma história normal mas, quando dei por mim, estava completamente submersa no ambiente britânico, no mistério, na dúvida, na ansiedade e no desconforto que nos faz sentir. A meu ver, estes são os ingredientes típicos dos romances de Ana Teresa Pereira que, combinados de forma harmoniosa, ficam muito perto da perfeição. É definitivamente uma escritora portuguesa com uma obra sólida, constituída por mais de 20 romances, que merece toda a nossa atenção.

 

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