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19
Nov18

[LIVROS] | Viva México

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No espírito da minha mais recente obsessão: Frida Kahlo, levei para as minhas férias de Verão um livro que já tinha comprado a propósito do Mulheres Viajantes, de Sónia Serrano, Viva México, de Alexandra Lucas Coelho, sabendo de antemão que uma parte significativa deste era dedicada à famosa pintora mexicana.

 
Viva México, numa edição linda da Tinta-da-China, foi um dos melhores livros que li este ano e contribuiu ainda mais para despertar o meu entusiasmo em relação à literatura de viagens. A estadia de Alexandra Lucas Coelho no México dura, aproximadamente, um mês, e realizou-se em Junho/Julho de 2010, por altura do campeonato do mundo de futebol. Esta percorre variados pontos do México: a inevitável e épica, Cidade do México, a norte a perigosa Juárez, e, mais a sul, Oaxaca, Juchitán, Ixtepec, Chiapas e Yucatán. É incrível e verdadeiramente emocionante a rede de contactos que Lucas Coelho estabelece ao longo desta viagem (a maioria dos quais já previamente alinhavada), bem como as histórias que vamos descobrindo durante livro.
Ninguém poderá alguma vez dizer que viu a Cidade do México. Quando a começamos a ver, calamo-nos, e depois nunca mais acabamos de a ver. O tubarão paira como um avião de papel.
 
Mais do que o presente, fazemos uma viagem ao passado, às raízes, à revolução, ao espírito mexicano, aos seus problemas, sempre através das pessoas que lá vivem ou que para lá se mudaram. Sempre através do olhar atento, preocupado, mas também humorístico desta jornalista. Há Frida Kahlo. Há a Casa Azul e o neto de Diego. Há o eterno problema do narcotráfico e dos imigrantes de países como Guatemala, Belize, El Salvador, Nicarágua. Há as civilizações antigas em justaposição aos problemas do nosso século. E tanto, tanto para descobrir, neste livro que resultou de uma reportagem que Alexandra Lucas Coelho fez para o Público e cujos textos foram aumentados ou fragmentados para compôr Viva México.
No tempo em que menos de uma pessoa por dia era morta em Juárez, os repórteres tinham umas horas para tentar constituir a história. Isso foi há séculos, em 2007. Agora, um repórter começa a escrever sobre o último morto, e no fim do parágrafo já está desactualizado. Os mortos fazem fila para entrar nas notícias, tal como na morgue.
 
Em Viva México, somos transportados de armas e bagagens, para um México quente, frenético e fascinante. A vontade de marcar uma viagem até Cidade do México foi inevitável, mas o receio é mais forte. Por enquanto. Quero muito ler outros livros de viagens de Alexandra Lucas Coelho, mas tenho sérias dúvidas que outro mexa tanto comigo. Leiam-no, é maravilhoso e imperdível.

As pessoas normais perdem tempo a pensar no que deviam ter feito, e algumas pessoas vêem o que há a fazer como uma pedra. Ser diferente podia ter acabado com Frida, mas ela estava destinada a viver contra todas as previsões. De uma forma um pouco cosmogónica - mas estar aqui ajuda-nos a não ter medo disso -, estava destinada a alterar para sempre o México. Porque Frida Kahlo existiu, o México é mais forte, mais complexo, mais desarmante. Na dor como no riso, ela continua os deuses e portanto é o futuro.

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