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05
Jul18

[LIVROS] | Ema

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A cada livro que leio de Maria Teresa Horta confirmo que esta será, definitivamente, uma paixão para a vida toda. Já tem direito a metade de uma prateleira na nova estante do quarto dedicada às minhas autoras preferidas (na prateleira de cima estão Clarice Lispector, Virginia Woolf e Elena Ferrante), que aguarda ainda alguns volumes seus, de modo a reunir a obra completa e a que está para vir.

 

Em Ema, consegui identificar alguns traços de semelhança a nível de estilo literário e narrativo com A Paixão Segundo Constança H. o que só podia ser um óptimo sinal. Trata-se de um romance claustrofóbico, onde somos confrontados com a violência e o ambiente de repressão em que Ema vive, com o ódio que vai crescendo dentro de si, a sede de vingança a cada gesto insuportável do marido, a cada lembrança que esta tem da mãe e da avó, todas chamadas Ema. Todas com um passado em comum, violência, violação, preconceito, castração e repressão.

 

Ema filha, Ema mãe, Ema avó. Não se trata de uma coincidência, há todo um propósito e significado na junção destas três mulheres da mesma família, com o mesmo nome, onde se perpetua o sofrimento e a incompreensão, havendo, contudo, uma revolta na última geração. A escrita de Maria Teresa Horta em Ema deixa o leitor numa espiral narrativa muito peculiar, e que tanto me agrada por nos envolver de uma forma obsessiva e perturbadora. Estou cansada de ler por aí que a classificação de um determinado romance como feminino se trata de uma adjetivação pejorativa e diminuidora da mulher. Não consigo concordar. Maria Teresa Horta escreve-nos com um tom feminino, visceral, louco, apaixonado, com que me identifico tanto e que me marca de sobremaneira, e isso não tem de ter nada de mal subjacente, é o que é, e é espectacular.

 

Oh esta dor!

Que dor é esta que vergonha! O corpo devassado deste modo a contragosto. Os peitos tão a recato sempre agora a descoberto as pernas nuas alargadas. O sangue nos lençóis: uma pequena poça que procuro tapar para que não a vejas.

Que vergonha!

E esconde a cara na almofada de linho bordado a cheio. Sem entender ainda bem o que se passou: violência assim tão de súbito no seu corpo. Sobre o seu corpo transido. Transida de medo e desgosto levou as mãos às coxas doridas e o sangue sujou-lhe as pontas dos dedos. Fitou-os atónita.

Repugnada.

 

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