[LIVROS] | Mulheres & Poder: um manifesto
Segue-se que as mulheres ainda são vistas como pertencendo ao exterior do poder. Podemos sinceramente querer que elas entrem nesse círculo ou podemos, através de vários significados inconscientes, classificar as mulheres como intrusas quando lá chegam. (...) Mas, de todos os modos, as metáforas partilhadas que usamos para referir as mulheres que chegam ao poder - "a bater à porta", "invadir a cidadela", "quebrar barreiras" ou simplesmente dando um "empurrãozinho" - sublinham a exterioridade feminina. As mulheres no poder são vistas como tendo derrubado barreiras ou, alternativamente, como tendo-se apropriado de algo a que não têm bem direito.
Não é possível incluir facilmente as mulheres numa estrutura que se encontra já codificada como masculina; é preciso alterar a estrutura. Isso significa pensar o poder de modo diferente. Significa separá-lo do prestígio público. Significa pensar colaborativamente acerca do poder dos seguidores, não apenas dos líderes. Significa, acima de tudo, pensar acerca do poder como um atributo ou mesmo um verbo ("empoderar"), não como uma posse. O que tenho em mente é a capacidade de se ser eficaz, de fazer a diferença no mundo e o direito a ser levado a sério em conjunto, bem como individualmente. É o poder nesse sentido que muitas mulheres sentem que não têm - e que querem. Porque é que "mansplaining" teve tão grande acolhimento (apesar do desagrado intenso que muitos homens sentem quanto ao termo)? Toca num ponto vulnerável porque recorda diretamente a sensação de "não ser levada a sério": um bocadinho como quando me tentam dar lições de história romana pelo Twitter.
Temos de pensar melhor acerca do que é o poder, para que serve e como é medido. Por outras palavras, se as mulheres não são encaradas como estando completamente dentro das estruturas de poder, decerto é o poder que tem de ser redefinido e não as mulheres?