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Mais Mulheres Por Favor

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08
Mar19

[DIA INTERNACIONAL DA MULHER] | Um documentário e duas contas de instagram

 

No Dia Internacional da Mulher, deixo-vos três recomendações. Um documentário que vi recentemente e adorei, e duas das minhas contas preferidas de Instagram.

 

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Period. End of Sentence.
Documentário disponível na Netflix, vencedor do Óscar de Melhor Curta-Metragem Documental. É muito mais do que um simples documentário sobre menstruação, retrata a realidade das mulheres na Índia, país onde a menstruação é, muitas vezes, sinónimo de abdicar da educação ou do trabalho. Para além de um grande tabu, é fonte de diversos mitos e desconforto nestas mulheres, já que as alternativas aos pensos higiénicos são muito limitativas e pouco higiénicas, algo que um máquina que produz pensos higiénicos acessíveis e biodegradáveis está a revolucionar.

 

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@thesweetfeminist
Becca Rea-Holloway é uma feminista norte-americana que faz bolos (e bolachas) cobertos com cremes coloridos e frases como "abortion isn't a bad word" ou "powerful women are not hysterical”. Impossível não amar.

 

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@clara.nao
Clara Silva é uma das minhas ilustradoras portuguesas preferidas pela simplicidade do seu trabalho, mas sobretudo pela relevância das questões que coloca através deste. É uma reinvicadora da igualdade que faz grande uso da ironia (o nome artístico "Clara Não" não é coincidência). Para além de prints, também faz colagens, desenhos com tinta da china e bordados.

 

04
Mar19

[LIVROS] | A Elegância do Ouriço

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A Elegância do Ouriço foi uma das leituras que mais me cativou nestes primeiros dois meses de 2019. Ajudou-me a atravessar uma fase de algum nervosismo e ansiedade, com muita leveza e humor, filosofia e inteligência. Não sei se o facto de estar escrito em português do Brasil reforçou todas as características que referi anteriormente, ou se teria gostado ainda mais dele se tivesse lido a edição de Portugal, contudo, o que importa aqui referir é que foi uma das leituras preferidas do ano e que lhe dei pontuação máxima.
 
Depois de ter lido outras opiniões no Goodreads, constatei que é um livro muito pouco consensual, ao contrário do que imaginava. Ainda assim, compreendi que o que mais desagrada à maioria dos leitores, é precisamente aquilo que mais me cativou neste livro. As personagens principais deste livro são Renée, porteira de 54 anos, e Paloma, de 12 anos, uma das habitantes do prédio do qual Renée é porteira, e este passa-se em França. Cada uma delas, à sua maneira, revela uma inteligência mordaz e uma capacidade de nos fazer reflectir sobre tantas questões do dia-a-dia com um olhar mais filosófico, mas sempre carregado de humor. Diversas foram as vezes que dei por mim a rir, imaginando o caricato da situação descrita ou transpondo o que estavam a descrever para o meu quotidiano.
O problema é que os filhos acreditam nos discursos dos adultos e, ao se tornar adultos, vingam-se enganando os próprios filhos. "A vida tem um sentido que os adultos conhecem" é a mentira universal em que todo mundo é obrigado a acreditar. Quando, na idade adulta, compreende-se que é mentira, é tarde demais. O mistério permanece intacto, mas toda a energia disponível foi gasta há tempo em atividades estúpidas. Só resta anestesiar-se, do jeito que der, tentando ocultar o fato de que não se encontra nenhum sentido na própria vida e enganando os próprios filhos para tentar melhor se convencer.
 
A trama gira em torno do facto da porteira ser uma mulher muito culta, por autodidatismo, algo que tenta disfarçar a todo o custo dos habitantes do prédio, até ao dia em que um novo habitante, um homem japonês, denota o seu conhecimento sobre Dostoievski, mais propriamente, sobre Anna Karénina, através da célebre abertura deste clássico russo. Deixo também um destaque especial para o final do livro, que me surpreendeu bastante, e para a personagem Manuela Lopes, a amiga portuguesa de Renée, que contribui imenso para a beleza deste livro.
Sra. Michel tem a elegância do ouriço: por fora, é crivada de espinhos, uma verdadeira fortaleza, mas tenho a intuição de que dentro é tão simplesmente requintada quanto os ouriços, que são uns bichinhos falsamente indolentes, ferozmente solitários e terrivelmente elegantes.
 
22
Fev19

[LIVROS] | A Minha Prima Rachel

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Daphne Du Maurier era uma das lacunas na minha estante por colmatar há mais tempo. Desde o início que estava inclinada para adquirir Rebecca, contudo, acabou por ser A Minha Prima Rachel o escolhido. Foi a primeira leitura do mês de Fevereiro e uma agradável surpresa.
 
Já tinha saudades de ler um romance deste género, com todos os aspectos culturais e sociais típicos de Inglaterra (de outros tempos) e uma forte carga dramática familiar. A escrita de Daphne Du Maurier é muito envolvente e o clima de suspense e mistério em torno de Rachel tornam a leitura muito entusiasmante, na ânsia de tentarmos perceber o que motiva realmente esta mulher. Outro aspecto que me cativou foi a caracterização dos personagens, apesar de não ter adorado nenhum deles, são muito ricos e dão força e dimensão ao enredo.
 
Uma das minhas partes preferidas tem lugar logo no início do livro, quando Philip recorda o seu primo Ambrose e o papel que este teve na sua educação e crescimento. Quando envelhece, Ambrose, devido a problemas de saúde, passa grandes temporadas do ano em locais com um clima menos agressivo que o da Cornualha, e, numa estadia em Itália, acaba por casar-se com Rachel. Relativamente pouco tempo depois, sem nunca ter regressado à Cornualha, Ambrose morre e tudo o que Philip recebe durante este período de tempo são raras cartas que demonstram o declínio de Ambrose e o crescimento da sua desconfiança por Rachel. As circunstâncias desta morte são pouco claras e Philip sente que tem de vingar a morte de Ambrose, desenvolvendo um ódio visceral pela prima Rachel. A trama adensa-se quando Rachel aparece, umas semanas mais tarde, na propriedade que Philip herdou de Ambrose.
 
Apesar da qualidade narrativa e do mistério que nos acompanha até ao final, considero que, a dado momento, Philip se tornou muito repetitivo (a parvoíce tem limites, mesmo quando se tem apenas 24/25 anos), algo que me aborreceu a dado momento, mas que acabou por ser ultrapassado devido a um desenvolvimento no enredo. Creio que é uma daquelas histórias que dificilmente se esquecerá, mas este não se tornou um dos livros preferidos da vida, ao contrário das minhas (elevadas) expectativas. Apesar disso, não posso deixar de recomendar esta leitura e quero, sem dúvida, ler mais obras de Daphne du Maurier.
 
Livro escolhido para o projecto Uma Dúzia de Livros, da Rita da Nova.
 
06
Fev19

[DOCUMENTÁRIOS] Quatro documentários para ver na Netflix

 
Nem todos os documentários desta lista são realizados por mulheres, contudo, todos têm um denominador comum, são sobre mulheres. De modo a fortalecer este projecto, tenho dado especial atenção aos documentários sobre mulheres que estão disponíveis na Netflix e tenho ficado muito surpreendida com os que vi até agora, não só a nível da sua qualidade, mas sobretudo por tudo o que tenho descoberto. Por este motivo, gostava de os ir partilhando por aqui, porque acredito que, grande parte deles, passem ao lado da maioria das pessoas e merecem realmente a pena ser vistos.
 

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Maya Angelou: And Still I Rise
É impossível ficar indiferente ao carisma desta poetisa e ativista dos direitos civis, à sua energia contagiante e à sua história de vida. Era uma das figuras do século XX que queria muito conhecer e foi maravilhoso fazê-lo através das suas próprias palavras e dos testemunhos de quem privou com ela. Já queria ler Sei Porque Canta o Passáro na Gaiola há bastante tempo, mas, depois deste documentário, subiu imediatamente na lista de prioridades literárias, devo lê-lo já em Março.
 

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Joan Didion: The Center Will Not Hold
O documentário que mais me emocionou de tão próxima que me fez sentir de Joan Didion. Dois aspectos conferem-lhe um tom ainda mais intimista do que é habitual neste género de documentários biográficos, primeiro, Joan Didion ainda está viva e fala abertamente sobre a sua vida e obra, segundo, é realizado pelo sobrinho. Talvez por isto me tenha sentido mais ligada emocionalmente à escritora e jornalista, que teve uma vida fascinante e que se tornou um ícone da literatura. A morte do marido e da filha com poucos meses de diferença quebraram-me por completo o coração e acabei por ir a correr comprar O Ano do Pensamento Mágico, livro autobiográfico centrado no luto pelo marido.
 

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Mercury 13
Quero crer que não era a única pessoa do planeta que desconhecia por completo que um grupo de mulheres ligadas à aviação foi sujeito a uma extensiva e rigorosa bateria de testes no âmbito do programa espacial. O responsável pela definição dos testes aos futuros homens astronautas, teve curiosidade de replicá-los em mulheres com o intuito de saber como estas se sairiam. Fê-lo em segredo absoluto e qual não foi o seu espanto quando se apercebeu que estas apresentavam melhores resultados que os homens. Como é possível calcular, quando foi descoberto, o projecto foi imediatamente cancelado e estas mulheres viram-se impedidas de participar na corrida ao programa espacial americano, quando tinham todo o direito e qualificação para o fazer. Este documentário tem uma fotografia magnifica e é deveras emocionante devido à presença de várias das mulheres que fizeram parte do Mercury 13. Mais uma daquelas histórias inspiradoras que nos motiva a nunca desistirmos dos nossos sonhos. Apesar de tudo, cerca de duas décadas depois, foi colocada no espaço a primeira mulher americana, quebrando-se finalmente as barreiras de género na NASA.
 

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What Happened, Miss Simone?
Documentário sobre a lendária cantora e ativista Nina Simone que foi nomeado, em 2016, para o Óscar de Melhor Documentário e cujo título foi retirado de uma citação de Maya Angelou. É provavelmente a figura mais controversa destes quatro documentários, por toda a sua história de vida e pela posição que assumiu na defesa dos direitos civis. Ainda assim, tantos foram os momentos em que me enterneceu e inspirou. Creio que este documentário tem um papel importante na melhor compreensão da pessoa que estava por detrás desta figura icónica, dos motivos pelos quais certas coisas aconteceram. Apaixonei-me pela música Ain't Got No - I Got Life, que reflete tão bem a época em que foi lançada (1968), e, em simultâneo, transmite uma mensagem de esperança maravilhosa, ponham-na a tocar e leiam a sua letra.
 
I ain't got no home, ain't got no shoes
Ain't got no money, ain't got no class
Ain't got no skirts, ain't got no sweater
Ain't got no perfume, ain't got no bed
Ain't got no man
 
Ain't got no mother, ain't got no culture
Ain't got no friends, ain't got no schoolin'
Ain't got no love, ain't got no name
Ain't got no ticket, ain't got no token
Ain't got no god
 
Hey, what have I got?
Why am I alive, anyway?
Yeah, what have I got
Nobody can take away?
 
Got my hair, got my head
Got my brains, got my ears
Got my eyes, got my nose
Got my mouth, I got my smile
I got my tongue, got my chin
Got my neck, got my boobies
Got my heart, got my soul
Got my back, I got my sex
 
I got my arms, got my hands
Got my fingers, got my legs
Got my feet, got my toes
Got my liver, got my blood
 
I've got life, I've got my freedom
I've got life
I've got the life
And I'm going to keep it
I've got the life
 
04
Fev19

[LIVROS] | Vox

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Vox, de Christina Dalcher, é uma distopia feminista que nos coloca nos Estados Unidos da América, onde as mulheres têm direito a verbalizar apenas 100 palavras por dia, contabilizadas por uma pulseira. Quando chegam às cem palavras são electrocutadas pela própria pulseira e à medida que ultrapassam o limite diário de palavras verifica-se o mesmo com a intensidade do choque.

 

Gosto particularmente de distopias porque nos fazem reflectir sobre quão longe poderemos estar de que se concretizem na vida real. Tendo em conta o nosso passado de silenciamento e a crescente onda de revolta, é natural que se receie uma nova revolução social, voltando o homem a estar no comando e a mulher completamente silenciada. Não é difícil imaginar como seria passarmos da liberdade de expressão que dispomos actualmente no nosso dia-a-dia, no trabalho, em casa, na rua, para um quase total silêncio. Abreviar frases de modo a usar o menor número de palavras possível, responder a questões abanando apenas a cabeça, voltar ao papel de dona de casa, uma vez que todas as mulheres perderam o direito de trabalhar, juntamente com a sua voz. Se pararmos um pouco para reflectir e nos recordarmos das pessoas com visões sociais e políticas muito pouco igualitárias que se encontram à frente de diversos países actualmente, tudo isto ganha dimensões palpáveis e concretizáveis, sobretudo quando as imaginamos associadas a um poderoso fundamentalismo religioso.

 

Vox apresenta-nos, portanto, um cenário altamente provável e tremendamente assustador. Gostei muito da forma como, em diversos momentos, me fez equacionar de que forma a minha vida mudaria ou como reagiria (ou não) face a divergências familiares quotidianas. Outro aspecto importante de reflexão prende-se com a educação de um filho e de uma filha num período como este. Seria árduo em ambas as situações porque apenas teríamos cem palavras diárias para o fazer, mas, no segundo caso haveria a preocupação acrescida de fazê-la compreender, desde muito pequena, que não pode pronunciar mais de 100 palavras por dia. Adicionalmente, quais as possíveis repercussões que uma restrição deste genéro poderia ter na nova geração de mulheres, em termos linguísticos?

 

A figura central de Vox é Jean, neurolinguista conceituada, mãe de três rapazes e de uma rapariga, que se vê afastada do seu trabalho e de si própria, a braços com a mudança de comportamento dos filhos (resultante das alterações educativas que este regime impôs) e com o futuro da filha. É através dela que temos conhecimento do que se passa naquele país e de como o futuro se prevê ainda mais assustador e limitativo.

 

O ritmo deste livro, que devorei rapidamente, e as questões que levanta agradaram-me bastante, contudo, fiquei um pouco desiludida com a intriga amorosa e o desfecho. Imaginava um final em aberto, prolongando-se o peso que este género de distopia coloca tipicamente sobre nós. Ainda assim, creio que irá fazer as delícias de quem é fã de distopias e thrillers, sobretudo entre os mais jovens. Estou ansiosa para falar sobre ele no Net Book Club.

 

Livro cedido pela editora, à venda a partir de hoje.

 

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