[LIVROS] | Poesis
Toda esta aventura do Mais Mulheres Por Favor resultou, em grande parte, de ter dedicado alguns meses deste ano à leitura de poesia escrita por mulheres. Como tal, não poderia adiar mais tempo a minha opinião sobre o último livro de poesia que li: Poesis, de Maria Teresa Horta.
Poesis resulta de uma ideia brilhante: descrever o processo criativo em que consiste a escrita da poesia. Está organizado em sete partes, Vocação, Invocação, Avocação, Convocação, Provocação, Evocação e Ad Finem, no final dos sete processos, um poema intitulado de Epopeia, um dos meus preferidos, e que resume o conteúdo deste livro.
Esta é a minha epopeia
feita de poesia
perdimentos e palavras
sem deuses sem batalhas
sem heróis nem lágrimas
sem o bronze das armas
Poema a poema a poema
paixão após fulgor após beleza
na sua dimensão mais ávida
Poesis tornou-se num dos meus livros preferidos de poesia pela ideia original e pelos poemas magníficos que Maria Teresa Horta escreveu e que fizeram deste livro algo absolutamente épico. Pessoal e intimista, Poesis contém nele tudo o que sentimos quando lemos poesia e imaginamos o que está por detrás da sua escrita, quando pensamos em escrevê-la e quando nos aventuramos a fazê-lo, pelo menos é assim que imagino o seu processo criativo.
É difícil escolher, entre tantas marcações, alguns dos meus preferidos para vos aguçar ainda mais a curiosidade, mas deixo-vos alguns abaixo juntamente com uma recomendação: leiam este livro que é, sem dúvida, um verdadeiro hino à poesia, tenho a certeza que vai fazer brotar nos vossos corações um amor especial por esta arte ou enraizar ainda mais o vosso amor, caso já lá habite.
Traços furtivos
Sinto-lhe os traços
furtivos
no côncavo da minha mão
ganhando estranhezas súbitas
agudezas, desvarios
dos meus sentidos perdidos
a prender-me o coração
a descer até ao fundo
pela rasura do braço
até chegar ao desvão
na delgadeza do pulso
É a poesia que chega
tomando forma e ruído
a falar o que eu não digo
Reler-me
Releio-me
no próprio espanto
silenciado
Reencontro-me
na poesia primeiro
em seguida no verso
e por fim no poema
inteiro
As rédeas do vento
Nunca pressinto o banal
arrumando
a minha vida
eu tomo as rédeas
do vento
galopo a fímbria dos dias
desato o nó
dos cabelos
vou voando na poesia