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Mais Mulheres Por Favor

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23
Mar18

[LIVROS] | A Porta

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A escritora húngara Magda Szabó criou uma verdadeira obra-prima do século XX. Já adivinhava a qualidade de A Porta (editado pela Cavalo de Ferro, o Prémio Fémina, as críticas...), mas este livro conseguiu superar as minhas expectativas e surpreender-me. Demorei algum tempo a escrever esta opinião e, neste preciso momento, ainda não tenho a certeza de como vou expôr o que penso sobre este livro e o que me fez sentir, tal foi o seu impacto.

 

É intenso, humano, um novelo que vamos desvendando a cada página, apesar de já sabermos de antemão que a narradora se considera culpada pela morte de Emerence. A Porta foca-se na relação entre duas mulheres, a narradora, Magda, uma escritora que se viu impedida de publicar pelo regime durante vários anos, mas que subitamente volta ao activo (vários são os paralelismos entre a narradora e a própria autora), e Emerence, a sua mulher-a-dias durante cerca de vinte anos.

Hoje, sei o que então ignorava, que não podemos exprimir os afectos de uma forma adquirida, canalizada, articulada, e que não posso determinar a sua forma no lugar de quem quer que seja.

Emerence é uma mulher peculiar, tem uma força incrível apesar da sua idade avançada, trabalha em diversas casas e como porteira, realizando tarefas árduas como ninguém, sem um queixume. Apesar de ser analfabeta e de não ter qualquer interesse pela cultura, religião ou política (para ela, qualquer profissão que não envolva esforço físico não é digna desse nome), Emerence não deixa que ninguém se atravesse no seu caminho, é ela que escolhe os patrões e não o oposto. Ninguém está autorizado a entrar na sua casa e há um grande mistério em torno do que há dentro da sua casa em consequência dessa restrição.

 

Por detrás de uma máscara de rudeza, provocação e intransigência, existe uma tragédia pessoal a vários níveis, que vamos descobrindo aos poucos, à medida que Emerence vai baixando a sua guarda e se vai criando uma forte ligação entre esta e Magda, apesar dos seus feitios divergentes. Penso que é tudo o que precisam de saber para se aventurarem nesta leitura surpreendente e muito rica

 

Fiquei fascinada com a escrita de Magda Szabó, um típico caso de primeiro estranha-se, depois entranha-se. No início, pareceu-me um pouco fechada, difícil de penetrar, mas habituei-me a esta com relativa facilidade e rapidez, de tal modo que se tornou adictiva. Confesso que me foi difícil abandoná-la e partir para outras leituras, porque o meu cérebro como que se moldou àquela escrita com subtilezas deveras interessantes que adorava saber explorar melhor neste texto, tivesse eu formação académida para tal. Além de me ter identificado muito com a escrita, recomendo-o sobretudo pelo seu conteúdo.

Não respondi e continuei a bater à máquina, embriões de frases incompreensíveis nasciam-me debaixo dos dedos nervosos.

 

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