[LIVROS] | A Paixão segundo Constança H.
Maria Teresa Horta esteve muito presente nas minhas leituras deste ano: Anunciações, Poesis e Novas Cartas Portuguesas, e foi uma descoberta preciosa, pelo que, depois de ler a opinião da Cláudia, não pude deixar de comprar e ler A Paixão segundo Constança H.
Na sequência de uma traição, paixão e loucura envolvem-se perigosamente a cada página, a cada poema, a cada parêntesis. Sendo esta uma leitura bastante rápida, dei por mim, diversas vezes, a torná-la mais lenta, de modo a saborear certos pormenores, a tentar ler nas entrelinhas. As constantes variações na sua estrutura e a escrita feminina, recheada de intimidade e erotismo, deixam-nos com uma ânsia de explorar e compreender Constança. As referências a Clarice Lispector, Sylvia Plath, Mariana Alcoforado (As Cartas Portuguesas), Virginia Woolf, Maina Mendes (Maria Velho da Costa), entre outras, são o complemento perfeito a este magnífico livro.
Lê e relê os livros que ele lhe trouxera a seu pedido: Duras, Sylvia Plath, Clarice Lispector... Vidas femininas que se alinham ali, à sua beira, que vai desfolhando, quem sabe se pela loucura... Emma Santos, Florbela Espanca, Zelda Fitzgeral.
(...)
Revê-se em cada linha que lê. Reconhece-se em cada parágrafo: na mudez de Maina ou na insanidade apaixonada de Lola Valérie Stein, na imponderabilidade de Mariana Alcoforado...
Maria Teresa Horta faz um retrato intenso, visceral, brutal e transformador de uma mulher profundamente magoada, carregada de ódio, caminhando a passos largos para a loucura até, progressivamente, esta a possuir. Íntimo, tremendamente feminino, com um domínio soberbo da palavra, este livro constitui também um poderoso lembrete para o preconceito e incompreensão associados a este tema tão complexo e sempre actual.
"Estou a enlouquecer", imaginava. E não queria saber dos sítios por onde passava.
Só dos silêncios.
Dos sulcos.
Dos cercos.
Das vozes dentro de si, enoveladas. Virginia Woolf escreveu na sua letra miudinha, "voltei a escutar as vozes", antes de se suicidar. Constança não se queria matar, mas a pulsão mais negra de ambas era a morte, a morte e a loucura. "Voltei a ouvir as vozes", garantiu Virginia. Constança não garantia nada, nem o seu amor. Porque aquilo não era já amor - sabia - não era já amor.
Imaginava e imaginava essa paixão obsessiva.
Com A Paixão segundo Constança H., Maria Teresa Horta entra, definitivamente, para a minha lista de escritoras preferidas de sempre. Preciso de ler toda a sua obra urgentemente (uma lista de compras para a Feira do Livro de 2018 encontra-se neste momento a ser elaborada). Atrevo-me a dizer-vos que tudo o que lhe sai das mãos merece ser lido. Leiam-na.