Saltar para: Post [1], Comentários [2], Pesquisa e Arquivos [3]

Mais Mulheres Por Favor

dia-da-mulher-billboard
20
Out17

[LIVROS] | A Cor do Hibisco

1B96D60E-B42C-4C90-8F8F-DC3CC32D8A91.JPG

 

A Cor do Hibisco foi outro dos livros que escolhi para releitura, de modo a fazer uma opinião para este blog. Para além de ter adorado este livro e de este ter uma temática que muito se adequa aos conteúdos do Mais Mulheres Por Favor, quis que esta releitura fosse um incentivo extra para ler finalmente os três livros de Chimamanda que estão na estante e cuja leitura pretendo fazer por ordem cronológica de publicação (Meio Sol Amarelo, A Coisa à Volta do Teu Pescoço e Americanah).

 

O primeiro romance publicado pela escritora nigeriana Chimamanda Ngozi Adichie, em 2003, conta-nos uma história que nos inquieta o coração desde o primeiro momento. Com uma escrita simples e delicada, A Cor do Hibisco é um livro precioso pelos valores que nos transmite e tão importante pela sua mensagem.

 

A vida de Kambili, do irmão Jaja e da mãe de ambos é fortemente marcada pelo poder que o seu pai, homem poderoso, inflexível e católico fervoroso, exerce naqueles que estão à sua volta. Eugene, acarinhado por toda a comunidade pelo seu poder, influência e frequentes donativos, deposita expectativas irreais na sua família, recorrendo ao seu catolicismo extremista para os punir de forma atroz sempre que não cumprem com os seus ideais, sejam eles pessoais, sociais, académicos, enfim, toda a sua vida é controlada ao segundo, milimetricamente, de modo a que nunca saiam do controlo desta abominável personagem. Kambili e Jaja assumem que o seu modo de vida é normal, desconhecendo o prazer de sorrir, de decidir o que fazer com o seu tempo livre, de falar abertamente, no fundo, de serem crianças/jovens felizes sem os muros repressivos que lhes são constantemente impostos.

Eu estava no meu quarto (...) quando ouvi barulho: umas pancadas rápidas e pesadas na porta esculpida do quarto dos meus pais. Imaginei que a porta estava empenada e o Pai a tentar abri-la. Se imaginasse com força suficiente, tornar-se-ia realidade. Sentei-me, fechei os olhos e comecei a contar. Contar fazia com que não parecesse tanto tempo, fazia com que não parecesse tão mau. Às vezes, acaba antes mesmo de eu chegar a vinte. Ia em dezanove quando barulho parou. Ouvi a porta abrir. Os passos do Pai nas escadas soaram-me mais pesados, mais desajeitados do que era hábito.

Quando se dá um golpe militar na Nigéria, o pai de Kambili e Jaja envia-os para casa de tia Ifeoma e dos primos, com o intuito de os proteger da ameaça que aquele golpe fazia crescer de dia para dia. Esta simples e, aparentemente, inofensiva mudança de ambiente torna-se rapida e irremediavelmente numa revolução na vida de Kambili e Jaja, já que passam a habitar uma casa onde há risos, camaradagem, conversas e discussões, alegria transbordante, apesar das ordens escrupulosas que o pai lhes dá a cumprir durante a sua estadia.

Pairavam risos por cima da minha cabeça. Saíam palavras da boca de toda a gente, muitas vezes sem procurarem nem obterem resposta. Em casa, falávamos sempre com um objectivo determinado, especialmente à mesa, mas parecia que os meus primos se limitavam a falar, falar, falar.

 

A visita a casa da tia e dos primos vai, como referi antes, despertar Kambili e Jaja para o conjunto de possibilidades que a vida tem (devia ter) para todos nós, poder amar, rir, ser livre. Rompem-se, aos poucos, as amarras que os silenciavam e vê-los descobrir tudo isto com espanto e incredulidade, acompanhar a sua evolução numa fase de transição entre a infância e a idade adulta é o mais maravilhoso deste livro. Leiam-no.

 

WOOK - www.wook.pt

2 comentários

Comentar post